Warren Buffett, aos 94 anos, anunciou sua saída do comando da Berkshire Hathaway ainda esse ano. O anúncio, feito na reunião anual em Omaha, marca o encerramento de um dos capítulos mais emblemáticos da história do capitalismo moderno.

No entanto, muito além dos números impressionantes, o verdadeiro legado deixado por Buffett está na forma como ele mudou para sempre a mentalidade dos investidores ao redor do mundo.

Muito além do value investing

Embora o conceito de investimento em valor (value investing) tenha surgido com Benjamin Graham, ninguém o elevou ao patamar de filosofia de vida como Buffett.

Seu mantra, comprar empresas excelentes a preços justos e manter os papéis por prazos indeterminados, virou evangelho nos corredores de Wall Street e entre investidores individuais.

Seu sucesso consistiu em muito mais do que selecionar boas ações. Ele criou uma estrutura única dentro da Berkshire, usando o “float” das seguradoras para financiar aquisições estratégicas.

Esse dinheiro, disponível antes que os sinistros fossem pagos, funcionou como alavanca para transformar um antigo negócio têxtil falido em um império de US$ 1,1 trilhão.

Símbolo de um ideal

Buffett se tornou símbolo de um ideal. Em plena era da ostentação, ele encantou o mercado com hábitos modestos e frases que mais pareciam conselhos de avô: “nosso período favorito de permanência é para sempre”, dizia ele.

Com uma carteira que incluiu nomes como Coca-Cola, American Express, Apple e Chevron, Buffett impôs um novo parâmetro para os investidores institucionais: paciência, consistência e integridade.

Sua presença nas empresas investidas funcionava como selo de aprovação, uma espécie de “grau de confiança” que muitas vezes valia mais do que o balanço do trimestre.

Simplicidade, disciplina e reputação

O estilo direto e a aversão ao ruído do mercado transformaram Buffett em uma referência não apenas de desempenho, mas de ética. “Perder dinheiro, eu entendo. Perder reputação, jamais perdoarei”, declarou ao Congresso dos EUA durante o escândalo da Salomon Brothers.

Com decisões firmes e racionalidade incomum, demonstrou que é possível unir resultados robustos à humildade. Sua habilidade de transformar complexidade em clareza fez dele um dos pensadores mais admirados, mesmo entre concorrentes.

“Efeito Buffett”

Apesar de reconhecer erros, como ter ignorado empresas de tecnologia no início, Buffett encerra sua trajetória com uma média anual de retorno de 19,9%, mais que o dobro do S&P 500. E mais do que isso: formou discípulos, inspirou investidores e influenciou políticas públicas com suas cartas anuais.

Gregory Abel assume agora a liderança da Berkshire, cercado de expectativas. Mesmo com estruturas sólidas e profissionais experientes ao redor, a dúvida persiste: é possível replicar o “efeito Buffett” sem o próprio Buffett?

Metáfora da bola de neve

A metáfora da bola de neve, título da biografia autorizada, resume bem sua jornada: comece pequeno, mantenha-se no curso, agregue valor constantemente. Seus ensinamentos permanecem vivos nos portfólios e nas atitudes de quem o acompanhou.

Por fim, Buffett deixou um código de conduta: pensar a longo prazo, buscar o valor real das coisas, agir com clareza e, acima de tudo, preservar a confiança.

Com informações de Infomoney