
Apesar dos avanços em indicadores como alfabetização e anos médios de estudo, o Brasil segue enfrentando desafios relacionados ao atraso escolar, especialmente entre jovens pretos e pardos e nas regiões Norte e Nordeste. Os dados são da PNAD Contínua: Educação, divulgada nesta sexta-feira (13) pelo IBGE.
Em 2024, o país registrou 9,1 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais – o equivalente a 5,3% da população desse grupo etário, a menor taxa desde 2016. Houve queda de 0,1 ponto percentual em relação a 2023, o que representa 197 mil pessoas a menos em condição de analfabetismo.
O problema, contudo, segue concentrado entre os idosos. Entre pessoas com 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo é de 14,9%. Entre as de 25 anos ou mais, cai para 6,3%. “O analfabetismo continua fortemente relacionado à idade”, afirma William Kratochwill, analista do IBGE. “As novas gerações estão sendo alfabetizadas na infância, mas ainda é essencial investir em políticas de alfabetização para adultos.”
Diferenças por sexo e raça persistem
Mulheres apresentaram taxa de analfabetismo inferior à dos homens: 5,0% contra 5,6%. Entre pessoas brancas, a taxa foi de 3,1%; entre pretos ou pardos, de 6,9%. A disparidade é mais expressiva entre idosos: 21,8% dos pretos ou pardos com 60 anos ou mais são analfabetos, ante 8,1% dos brancos.
Mais da metade dos adultos concluiu a educação básica
A proporção de pessoas com 25 anos ou mais que finalizaram, pelo menos, o ensino médio chegou a 56,0% em 2024 – recorde da série iniciada em 2016. As mulheres (57,8%) seguem à frente dos homens (54,0%) nesse quesito.
Entre brancos, 63,4% completaram essa etapa, contra 50,0% dos pretos ou pardos. A diferença de 13,4 p.p. é praticamente a mesma de 2023, refletindo desigualdades persistentes.
Cresce a escolaridade média e o ensino superior
A média de anos de estudo para quem tem 25 anos ou mais subiu de 9,9 para 10,1 anos. Mulheres seguem com maior escolaridade média (10,3 anos) em comparação aos homens (9,9). Brancos têm 11,0 anos de estudo, enquanto pretos ou pardos ficam com 9,4 anos.
O percentual da população com nível superior completo subiu para 20,5%. Ainda assim, 5,5% dos brasileiros com 25 anos ou mais seguem sem nenhuma instrução formal.
Escolarização infantil avança, mas jovens seguem fora da escola
A taxa de escolarização entre crianças de 0 a 3 anos alcançou 39,8%, crescendo pelo oitavo ano consecutivo. Já entre as de 4 a 5 anos, o índice chegou a 93,4%. Na faixa de 6 a 14 anos, o país atingiu quase a universalização: 99,5% estão na escola.
Entre jovens de 15 a 17 anos, a taxa foi de 93,4%, ainda abaixo do ideal estabelecido pela LDB. Na faixa de 18 a 24 anos, apenas 31,2% estavam escolarizados, sendo que só 27,1% cursavam o nível correspondente (ensino superior).
“A taxa entre adolescentes permanece estável, mas ainda distante da universalização. É preciso enfrentar as causas da evasão, especialmente no ensino médio”, avalia William.
Faltam creches no Norte e Nordeste
Boa parte das crianças de até 3 anos está fora da creche por decisão dos responsáveis. Mas o segundo maior motivo é a falta de vagas ou instituições próximas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde o problema atinge até 47% das crianças de 2 a 3 anos.
Metas do PNE não foram atingidas
Em 2024, 94,5% das crianças de 6 a 14 anos estavam na etapa escolar adequada, abaixo da meta de 95% do Plano Nacional de Educação (PNE). Já entre os jovens de 15 a 17 anos, 76,7% estavam ou já haviam concluído o ensino médio – distante dos 85% previstos pelo plano.
No grupo de 18 a 24 anos, 64,6% não frequentavam a escola e não haviam concluído o nível esperado. Apenas 4,2% haviam terminado o ensino superior. A meta de elevar a taxa líquida do ensino superior para 33% até 2024 foi alcançada apenas pela população branca.
Atraso escolar atinge mais pretos e pardos
Entre jovens brancos de 18 a 24 anos, 37,4% estavam no nível adequado de ensino. Já entre os pretos ou pardos, apenas 20,6%. Além disso, só 2,9% dos jovens pretos ou pardos concluíram o ensino superior, ante 6,2% dos brancos.
8,7 milhões de jovens deixaram a escola sem concluir o ensino médio
Em 2024, 8,7 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não haviam concluído o ensino médio. A evasão começa a se intensificar a partir dos 15 anos, atingindo 20,7% aos 18 anos. Os principais motivos para abandono são: necessidade de trabalhar (42,0%), desinteresse (25,1%) e, entre as mulheres, gravidez (23,4%).
Para William, os dados revelam que “responsabilidades domésticas e reprodutivas afastam as mulheres, enquanto os homens saem da escola principalmente para trabalhar”.
18,5% dos jovens não estudam nem trabalham
O grupo conhecido como “nem-nem” – jovens que não estudam, não trabalham nem se qualificam – representa 18,5% dos brasileiros de 15 a 29 anos. A maior parte é composta por mulheres (24,7%) e pessoas pretas ou pardas (21,1%).
Ensino médio técnico e qualificação profissional crescem
O número de estudantes em cursos técnicos no ensino médio cresceu 28,8% desde 2019, chegando a 832 mil. A qualificação profissional também avançou: 569 mil pessoas estavam matriculadas em 2024, alta de 8,8% em relação ao ano anterior.
Escola pública forma maioria dos estudantes de ensino superior
Entre as pessoas que frequentaram o ensino superior, 72,6% cursaram o ensino médio na rede pública. No caso da pós-graduação, 59,3% também vieram da escola pública.
“O dado reforça que, mesmo com desafios, a rede pública tem contribuído para a formação de capital humano e acesso ao ensino superior”, afirma William.
Foto: Alba Rosa/AEN