A ideia de que o mercado de criptomoedas segue ciclos rígidos de quatro anos, impulsionados pelo halving do Bitcoin, vem perdendo força diante das transformações estruturais observadas nos últimos anos.
Segundo Orlando Telles, Diretor de Research da On Crypto Research (On Crypto), o ano de 2025 marcou uma inflexão clara na dinâmica do setor, com impactos diretos sobre as expectativas para 2026.
Historicamente, o período posterior ao pico do ciclo costuma coincidir com um bear market mais acentuado.
No entanto, Telles afirma que o atual contexto exige uma leitura mais cuidadosa. “A institucionalização acelerada do mercado, liderada por gestoras como BlackRock e Fidelity, alterou de forma significativa o comportamento do Bitcoin e dos principais criptoativos”, explica.
Para ele, o mercado passou a responder muito mais aos movimentos macroeconômicos globais do que aos padrões históricos associados ao halving.
Essa mudança foi bem sintetizada por Larry Fink, CEO da BlackRock, ao definir o Bitcoin como um ‘ativo do medo’, buscado por investidores em momentos de incerteza financeira, tensões geopolíticas e crescimento acelerado da dívida pública das grandes economias.
Receba Informações do Mercado Financeiro em Tempo Real. Entre para nossa Comunidade no Whatsapp!!!
Nesse novo cenário, a trajetória do mercado cripto em 2026 estará diretamente ligada às decisões dos principais bancos centrais, especialmente o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco Popular da China.
De acordo com Telles, há uma expectativa construtiva para o final de 2025 e início de 2026, sustentada pela possível estabilização das taxas de juros nos Estados Unidos e pelo avanço da clareza regulatória no país.
Ainda assim, o ciclo de liquidez global aponta para a probabilidade de períodos de correção ao longo de 2026. “Não espero quedas abruptas como as observadas em 2018 ou 2022. A maturidade do mercado e a presença institucional tendem a suavizar a volatilidade estrutural”, afirma.
No campo macroeconômico, três grandes agendas devem concentrar a atenção dos investidores no próximo ano. A primeira é a política monetária dos Estados Unidos, marcada pela indicação de um novo chairman do Federal Reserve e pela transição para um ambiente de Quantitative Easing (QE).
Embora a expectativa seja de estabilização das taxas em 2026, esse processo deve gerar volatilidade relevante nos mercados globais.
O segundo vetor diz respeito ao debate sobre reservas estratégicas em criptoativos. Segundo Telles, bancos centrais e governos começam a discutir, de forma mais aberta, a inclusão de ativos digitais em suas estratégias de reserva, o que pode representar uma mudança estrutural na relação entre Estados e criptoeconomia.
Acesse análises valiosas em tempo real na palma da mão! Não perca nenhuma oportunidade! Baixe GRATUITAMENTE o App da Blue Research agora e esteja sempre um passo à frente no mercado financeiro. 
Já o terceiro eixo é a consolidação da regulação de stablecoins. Nos Estados Unidos, o GENIUS Act estabeleceu padrões federais para emissão, reservas e supervisão desses ativos.
Na Europa, o MiCA segue em fase de implementação ativa. Para Telles, 2026 será menos um ano de anúncios e mais um período de execução regulatória.
No Brasil, o ambiente regulatório também tende a se tornar mais rigoroso. As novas normas do Banco Central para prestadores de serviços de ativos virtuais entram em vigor em fevereiro, enquanto a Receita Federal lançará a Declaração de Criptoativos (DeCripto) em julho, alinhada aos padrões da OCDE.
“Isso deve acelerar a nacionalização de corretoras internacionais e exigir um planejamento tributário mais sofisticado por parte dos investidores brasileiros”, avalia.
Nos Estados Unidos, o momentum regulatório é considerado o mais positivo da história do setor. Além do GENIUS Act, espera-se maior flexibilidade regulatória para stablecoins e ativos do mundo real tokenizados (RWA), bem como a aprovação de novos ETFs spot de diferentes criptoativos ao longo de 2026.
Esse novo ambiente regulatório deve impactar diretamente a dinâmica de mercado, especialmente no segmento das chamadas Digital Asset Treasury Companies (DATs). Após a euforia de 2024 e início de 2025, quando empresas como a Strategy chegaram a negociar com prêmios superiores a 200% sobre seu valor patrimonial em Bitcoin, o setor passou por uma correção relevante.
Tome as MELHORES DECISÕES financeiras com o suporte de quem realmente entende do assunto. Fale com nossos Especialistas!
Para Telles, 2026 será um ano de consolidação. “Veremos um processo darwiniano, em que apenas as empresas com gestão prudente de caixa e balanços saudáveis sobreviverão”, afirma, citando como exemplo a decisão recente da Strategy de manter uma reserva de US$ 1,44 bilhão em dólares.
Na avaliação do diretor de research da On Crypto, os próximos anos marcarão a consolidação definitiva do mercado cripto no mainstream financeiro global. “Instituições tradicionais assumirão um papel protagonista, a regulação seguirá avançando e os casos de uso reais continuarão se multiplicando em stablecoins, tokenização de ativos do mundo real e infraestrutura de pagamentos”, conclui.


