
É amplamente aceito no mundo financeiro que os mercados são, em geral, eficientes. Isso significa que os preços dos ativos refletem rapidamente todas as informações disponíveis. Howard Marks, no capítulo 5 do seu livro O Mais Importante para o Investidor, aborda diretamente essa questão ao afirmar que, apesar dessa eficiência, o mercado está longe de ser perfeito.
Marks explica que a teoria do mercado eficiente pressupõe que todos os participantes têm acesso igual às informações relevantes e que, por isso, nenhum investidor pode consistentemente lucrar com erros de precificação. No entanto, ele questiona essa premissa, sugerindo que, na prática, existem falhas e ineficiências frequentes. Em suas palavras, “a eficiência não é tão universal a ponto de fazer com que desistamos do desempenho superior”.
Preços refletindo emoções, não apenas fundamentos
Embora a hipótese do mercado eficiente faça sentido na teoria, Marks ressalta que, na prática, as emoções e comportamentos dos investidores levam frequentemente os preços a desvios significativos do valor intrínseco dos ativos. “Os preços dos ativos frequentemente refletem mais o comportamento humano do que a realidade econômica”, pontua Marks, indicando que euforia e pânico podem gerar tanto bolhas especulativas quanto oportunidades de investimento.
Durante períodos de otimismo exagerado, os preços tendem a inflar, ultrapassando amplamente o valor real dos ativos. Em momentos de crise e pessimismo generalizado, ocorre justamente o oposto: ativos valiosos podem ficar significativamente subvalorizados. É nesses extremos emocionais que o investidor atento encontra as melhores oportunidades.
A importância das ineficiências
Marks enfatiza que as ineficiências do mercado são essenciais para que investidores possam alcançar retornos superiores. Ele afirma: “a ineficiência é condição necessária para a obtenção de retornos superiores”. Isso porque, em um mercado perfeitamente eficiente, a possibilidade de superar consistentemente a média seria tão provável quanto acertar em um jogo de cara ou coroa.
Portanto, as imperfeições e erros de precificação são exatamente a matéria-prima que investidores atentos e capacitados devem buscar. Contudo, Marks também adverte que “a existência dessas ineficiências não garante que iremos superar o mercado”. Para explorar essas oportunidades, é essencial possuir uma percepção diferenciada e superior à da maioria dos investidores.
Como reconhecer e aproveitar as oportunidades
Para que o investidor possa realmente aproveitar essas ineficiências, Marks propõe algumas perguntas fundamentais:
- Por que existe uma pechincha se há tantos investidores buscando oportunidades?
- Quando um retorno parece alto demais em relação ao risco, será que existe algum risco oculto sendo negligenciado?
- Se o ativo parece tão bom, por que seu proprietário está disposto a vendê-lo a esse preço?
Responder a essas questões pode ajudar o investidor a evitar armadilhas e identificar oportunidades genuínas que o mercado ainda não percebeu.
Vencer o mercado: questão de percepção e coragem
Segundo Howard Marks, alcançar retornos superiores exige mais do que apenas identificar erros de precificação. Exige coragem para agir contra o consenso e paciência para esperar que o mercado reconheça o valor real dos ativos. Como ele diz, “muitas das melhores pechinchas, em qualquer momento, são encontradas naquilo que outros investidores não podem fazer ou não querem fazer”.
A chave para investir bem está, portanto, em combinar competência analítica com disciplina emocional. Reconhecer as limitações do mercado eficiente é o primeiro passo. Ter a coragem e a disciplina para agir sobre essas oportunidades é o que realmente diferencia investidores excepcionais dos medianos.
Conclusão
Howard Marks deixa claro que, apesar da eficiência relativa dos mercados financeiros, sempre haverá brechas e oportunidades para aqueles que sabem onde e como procurar. Investidores inteligentes não tentam prever o futuro com exatidão, mas observam atentamente as áreas onde o mercado pode estar errado. É nesse equilíbrio entre teoria e prática, eficiência e ineficiência, que residem as maiores oportunidades de retorno.